
Síndrome do pânico
A psicoterapia ajudando na construção de um mundo interno mais seguro.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 450 milhões de pessoas no mundo sofram com algum tipo de transtorno mental. A OMS afirma ainda que a maioria dos casos não é tratada ou sequer identificada; e, segundo a Superintendência de Perícia Médica e Saúde Ocupacional da Secretaria de Estado de Saúde (SES), do Rio de Janeiro, as doenças mentais representam cerca de 50% das licenças médicas concedidas aos servidores, sendo que, dentre as patologias mais frequentes estão: depressão, ansiedade, fobia e síndrome do pânico.
Na sociedade contemporânea, estamos vivendo em uma era de muita pressão social, exigências, violências, individualismos, inseguranças e incertezas, entre outros fatores, que podem gerar uma sensação de desamparo no homem. Este cenário favorece o surgimento de várias patologias, incluindo a síndrome do pânico, cujos sintomas se caracterizam por um ataque agudo e intenso de ansiedade, e vem acompanhado por manifestações corporais como: taquicardia; falta de ar; vertigem; tremores; náusea; sudorese intensa; dores no peito; calafrios ou ondas de calor; sensações de morte iminente; medo de perder o controle dos seus atos ou de enlouquecer. Quando estes sintomas são frequentes, provocando modificações no comportamento e alterando negativamente a rotina da pessoa e uma preocupação persistente em que estes sintomas retornem, temos um quadro de transtorno do pânico, cuja intensidade e a natureza dos sintomas variam de pessoa para pessoa.
O ataque de pânico surge subitamente sem qualquer aviso prévio e, aparentemente, sem uma causa desencadeante. Este caráter imprevisível, ou seja, o receio de se ter uma outra crise de pânico, pode levar a pessoa a evitar lugares e situações em que ela acredita que será difícil escapar ou receber ajuda. Desta forma, o ato de sair sozinha ou realizar tarefas simples do dia a dia, como trabalhar, ir à escola, usar transporte público, ir ao supermercado, viajar ou realizar tarefas corriqueiras, pode deflagrar grande estresse e ansiedade na pessoa que, dependendo da gravidade do caso, pode levá-la a um estado de incapacidade para o gerenciamento da própria vida, pois, estar dominado pelo pânico é uma experiência paralisante, de extrema angústia e com intensas sensações de medo e desespero.
Somos seres indefesos e nascemos em uma condição de total dependência de outra pessoa para sobrevivermos: nossos pais ou substitutos. A importância dos primeiros cuidados recebidos na infância tem uma função estruturante ou "desestruturante", na formação do psiquismo da criança. O investimento afetivo dos pais ou substitutos, e o estabelecimento de relações de confiança e segurança entre estes, propicia para a criança uma estabilidade em seu "mundo interno", diminuindo seu sentimento de desamparo.
Alguns estudiosos do transtorno do pânico relacionam as crises de pânico às experiências mais primitivas do desenvolvimento infantil, ou seja: quando nas relações iniciais existe a predominância de um contato frio e distante, rompimentos ou separações abruptas, essas experiências serão vividas pela criança, com um intenso sentimento de desprazer e angustia, formando uma relação entre pais e filhos, precariamente construída.
Devido à imaturidade do seu psiquismo, a criança não possui recursos suficientes para lidar com um excesso de desconforto emocional. Estas experiências precoces da criança, de extremo desamparo, trazem consequências como a insegurança e o sentimento de desproteção, fragilizando o psiquismo. Com isso, na vida adulta, os recursos internos serão insuficientes para lidar com as pressões e as exigências da realidade externa.
O pânico possui uma dimensão mais subjetiva e está ligado a elementos internos que têm uma representatividade de uma ameaça de perigo e desamparo para a pessoa. Estes elementos internos podem estar relacionados à perda de um ente querido, problemas de saúde, desemprego, acidentes, uma promoção no trabalho, término de relacionamento, a realização de um projeto, chegada de um filho, entre outros. Estes elementos requerem enfrentamentos que nem sempre estamos preparados para lidar. Para algumas pessoas, estas experiências de enfrentamento podem ser vivenciadas de uma forma catastrófica, como uma espécie de "desabamento interno", que podemos chamar de pânico. Diante das vivências de intensa angustia é comum a eleição de um acompanhante: pessoa de confiança do paciente que tem a função de transmitir apoio e segurança, apaziguando, dessa forma, seus sentimentos de desamparo.
A natureza perturbadora dos sintomas altera significativamente o comportamento e
compromete o desempenho na vida profissional, pessoal e social. A psicoterapia pode
ajudar o paciente na construção de um mundo interno mais seguro e confiante, propiciando
uma mudança na maneira de ver e lidar com suas dificuldades emocionais. Dependendo da
gravidade do caso, será necessário o uso da medicação, que auxiliará na "suavização" dos
sintomas dos ataques do pânico; porém, o remédio, por si só, não curará; e sem o tratamento
adequado, as crises podem tornar-se crônicas. É na relação de confiança estabelecida com
o terapeuta, que o paciente poderá simbolizar suas dores emocionais e se reorganizar
psiquicamente.
Karla Bonturi
Psicóloga/Psicanalista
CRP 05/29485