A diferença entre a tristeza e a depressão

A depressão tem cura e deve ser tratada.

É preciso diferenciar a tristeza da depressão. A tristeza é um sentimento que faz parte da natureza humana. Ao longo da nossa vida experimentamos diversos momentos difíceis e desagradáveis, como um rompimento amoroso, desemprego, decepções, abandono, traumas, etc. É natural sentirmos tristeza em situações onde vivenciamos perdas e frustrações. Com o passar do tempo, o sentimento de tristeza tende a se dissipar e, então, podemos reinvestir em novos objetos, ou seja, recuperar o interesse pelas pessoas, trabalho e lazer; enfim, retomar o interesse pela vida. O problema é quando a tristeza não passa.

Uma das formas de sofrimento psíquico predominante nos dias atuais é a depressão. Ela pode ser caracterizada por um sentimento contínuo de tristeza, por uma perda de interesse pelo mundo externo, autodesvalorização, desesperança, autorrecriminações, perda da capacidade de amar, entre outros sintomas, causando prejuízo em todas as áreas da vida sujeito.

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), em 2030 a depressão será a segunda maior causa de incapacidade no mundo, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde, incluindo câncer e doenças cardíacas.

Os quadros da depressão podem se manifestar em qualquer faixa etária, variam de intensidade e podem ser classificados por quadros leves, moderados e graves. Dependendo da intensidade da depressão, ela pode levar a pessoa a cometer suicídio.

Um dos fatores de maior importância para se pensar na origem da depressão, se localiza nos estágios iniciais da nossa constituição subjetiva. Nossas primeiras relações são fundamentais para um desenvolvimento psíquico saudável. Nascemos em uma condição de extrema fragilidade e dependência; precisamos de um "outro", que atenda as nossas necessidades mais básicas, como: fome, frio, calor, etc. Mas, somente essas necessidades atendidas não são o suficiente para nosso desenvolvimento: O olhar materno ou da pessoa que está na incumbência desses primeiros cuidados com o bebê, tem uma função estruturante na formação do eu.

A predominância das primeiras experiências de satisfação e afetividade, na relação da mãe com o bebê, ou seja, uma mãe sensível às necessidades físicas e emocionais do bebê, com um olhar amoroso, acolhedor, aquele que ampara, e proporciona conforto e segurança, possibilita o desenvolvimento de um sentimento de confiança na criança, contribuindo para o desenvolvimento e solidificação de sua personalidade. Em outras palavras, está relacionado com uma imagem positiva de si mesmo (autoestima).

As primeiras relações, construídas ao longo dos primeiros anos de vida, são determinantes para a saúde psíquica da criança e podem prevenir o surgimento da tendência à depressão, entre outros transtornos. Uma relação predominantemente afetiva, com as principais pessoas do ambiente familiar, possibilitará que a criança lide melhor com as situações adversas e servirá como recurso interno para suas futuras experiências; o processo inverso, também é verdadeiro. Em outras palavras, o excesso de desamparo e falhas nos primeiros cuidados com a criança, fará com que ela tenha menos recursos simbólicos para lidar com as adversidades, perdas e frustrações na vida. Portanto, os estágios iniciais da vida humana são a base para o desenvolvimento de uma mente saudável e, consequentemente, com mais recursos emocionais para lidar com os desafios da vida.

A depressão, mesmo em casos leves, é uma dor profunda na alma; não é "frescura", nem "preguiça": É um estado de sofrimento psíquico que leva a pessoa a se sentir impotente e insuficiente frente às exigências da vida. A depressão tem cura e deve ser tratada por meio do apoio psicológico, que ajudará a pessoa na identificação de suas causas e, dependendo da gravidade do caso, o paciente deve ser medicado.

Karla Bonturi
Psicóloga/Psicanalista
CRP 05/29485

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