A importância dos pais na educação dos filhos
A disciplina deve ser aplicada com tranquilidade e firmeza.
Até meados do século XX, a família seguia um modelo “tradicional”, onde o homem e a mulher tinham lugares e papéis bem definidos. O pai era a figura central e o chefe da família, que detinha um poder absoluto e “inquestionável” dentro da cultura patriarcal; fato hoje, cada vez mais em declínio. A mulher era vista e nomeada como “dona de casa” e seu maior papel era desempenhar as tarefas domésticas e cuidar dos filhos.
Com as recentes transformações no mundo, nas esferas: social, política, cultural, econômica e tecnológica, a família também vem se transformando e se distanciando deste modelo tradicional; e de uma educação repressora e autoritária. Atualmente, a família tende para uma estrutura de igualdade, bem diferente do modelo hierarquizado, onde pais e filhos se relacionavam de forma distante. Hoje, as novas famílias são constituídas “horizontalmente”, sem hierarquia: As novas famílias desfazem as antigas posições da família “tradicional”, composta por pai, mãe e filhos, com seus respectivos papéis bem definidos.
Atualmente, as novas famílias são constituídas a partir de casamentos desfeitos e refeitos, onde se misturam filhos do casamento anterior, com os filhos do companheiro atual e os filhos convivem com padrastos, madrastas e os parentes dos respectivos cônjuges, formando uma grande família. Neste contexto, as funções de autoridade podem ficar “confusas” e a criança pode ficar sem referência. Estas novas constituições familiares podem levantar as seguintes questões: Quem é a autoridade nesta família? O pai biológico ou o padrasto? A mãe, a madrasta ou a babá? A quem a criança deve obedecer?
Além deste cenário, com a entrada da mulher no mercado de trabalho, surgiu a necessidade de deixar
os filhos, desde cedo, na creche, com a babá ou terceiros, para que os pais possam trabalhar. E
pelas exigências cada vez maiores de um mundo altamente competitivo e a necessidade de sustentar
a casa, acaba ocorrendo uma ausência parcial dos pais no convívio com os filhos e, com isso,
naturalmente, muitos pais acabam delegando suas responsabilidades à escola ou a outros.
A escola é uma instituição que tem um papel de alfabetizar, ensinar a ler e escrever, socializar e intelectualizar os alunos. Aos pais, cabe a tarefa de educar, no sentido de transmitir princípios e valores morais, orientar, disciplinar e colocar limites em seus filhos(as). Se os pais se omitem desta função, delegando-as a terceiros, a formação da personalidade dos filhos tenderá a ser frágil, devido a um baixo investimento afetivo, que, conjugado com a falta de autoridade, fará com que a criança se sinta desamparada, interferindo diretamente no seu comportamento. Quem nunca viu crianças em shoppings ou restaurantes, expondo os pais à situações vexatórias e desagradáveis? Aquela criança que se joga no chão, exigindo que os pais comprem aquele brinquedo da loja ou o sorvete; e os pais dizem que não vão comprar, mas a criança insiste e faz birra, chora, grita... Muitas vezes cansados, pressionados ou até mesmo culpados, os pais acabam cedendo às vontades dos filhos, se deixando "escravizar" por eles. Se os filhos percebem que os pais se "enfraquecem" diante de suas pressões, certamente usarão deste tipo de recurso, entre outros, para conseguirem seus objetivos.
O excesso de permissividade dos pais deixará a criança sem referência do que é permitido ou não, o que causará ansiedade e um sentimento de insegurança na criança. Por outro lado, as regras sociais e os limites dão à criança um cunho de proteção e segurança para que ela não fique a mercê de suas próprias intensidades (impulsos regidos pelo prazer imediato). A falta do uso da autoridade dos pais, nas crianças, implica em futuros problemas no convívio social e baixa tolerância às frustrações, para lidar com os desafios que o mundo real vai impor. A disciplina deve ser aplicada com tranquilidade e firmeza, evitando brutalidades, abusos da autoridade e violências. Quando os pais dizem aos filhos: Não! É não; e ponto. Cabe aos pais sustentarem seu lugar de autoridade.
Educar é um ato de amor; é preparar os filhos para a vida adulta e em sociedade. Não é uma tarefa simples. Para educar, os pais devem ter paciência e uma boa dose de amor para suportar as possíveis reações adversas, que os filhos poderão manifestar diante da recusa da realização de seus desejos. Ser pai e mãe dá muito trabalho, requer dedicação, tempo, compromisso e paciência; e cabe aos pais, a responsabilidade de educar seus filhos. Ter filhos implica em, muitas vezes, ter que renunciar seus prazeres pessoais, em nome de um bem maior, que é o desenvolvimento saudável do filho. As crianças se sentem amadas, pelo interesse que seus pais demonstram por elas. Pequenos gestos realizados diariamente, como conversar com o filho, ajudá-los nos deveres da escola, levá-los para brincar na pracinha, contar estórias antes de dormir e outros, faz com que a criança se sinta desejada e segura, pois, a criança sabe que pode contar com os pais. Eles são seu porto seguro. O importante não é a quantidade de tempo dispensado ao filho; e sim, a qualidade da relação estabelecida ao longo do desenvolvimento com eles.
Ao nascer, o bebê precisa dos cuidados maternos, sem os quais ele não sobrevive. A criança necessita dos cuidados com a alimentação, higiene... Mas, igualmente importante é o alimento afetivo, que serão as marcas que ficarão na nossa memória: o sentir-se olhado, desejado, acariciado, protegido... Este investimento afetivo é que dará forma a autoestima da criança. Outro aspecto muito importante na formação da personalidade é a instância psíquica, chamada de "superego"; essa instância é formada pela autoridade dos pais e internalizada pela criança, sob a forma de regras, normas, limites, valores e princípios morais e tem também a função de inibir e censurar condutas e impulsos socialmente inadequados. Somente com a instauração do superego, característica de máxima importância no ser humano, o indivíduo poderá controlar seus impulsos mais primitivos.
A falta de investimento afetivo dos pais, nos filhos, conjugado ao excesso de permissividade, fará com que os alicerces da personalidade dos filhos sejam precariamente construídos; e isto afetará diretamente o comportamento da criança, dificultando o processo de aprendizagem, a interação com colegas e/ou outros sintomas, que surgirão, como uma forma da criança, sinalizar aos pais ou "cuidadores", de que algo com ela não está indo tão bem.
Como consequências da falta de limites, a criança cresce com baixa tolerância a frustrações, dificuldade de se relacionar e se socializar, pois, como não aprenderam a suportar a frustração, desde cedo, certamente serão dominadas pelas suas intensidades, impulsos, regidos pelo prazer imediato, camada emocional que as impelirá a agir, usando até de violência, quando alguém lhe fizer algum tipo de oposição, quando deveriam aprender a usar a razão e o equilíbrio em suas atitudes.
Recentemente, veiculou-se na mídia televisiva a noticia de que o maior motivo de demissão dos
funcionários é o mau comportamento com o chefe e os colegas, atrasos e a violência no ambiente de
trabalho. Esta notícia pode ilustrar alguns dos problemas que a falta de limites, na infância,
acarretará na vida adulta.
O melhor para formação da personalidade da criança é aprender a ter limites em casa,
por meio do amor e do carinho dos pais.
É em casa, na relação com os pais, que a criança deve ser educada e aprender, desde cedo, a ter
noção dos limites e a respeitar o próximo: Funções exercidas pelos pais, fundamentais para o
desenvolvimento saudável do psiquismo do indivíduo e o bom convívio deste na sociedade.
Karla Bonturi
Psicóloga/Psicanalista
CRP 05/29485